sábado, 10 de maio de 2008

Feedback em Ambiente Virtual

por Helen Faria

O tema feedback, sempre relevante no contexto de ensino/aprendizagem, é aqui focalizado no âmbito dos ambiente virtuais. Em seu texto, Paiva (2003) traz várias definições do termo pertinentes a várias áreas de conhecimento, destacando o conceito definido ao ensino/aprendizagem on-line. A autora discorre sobre o assunto esclarecendo os vários tipos de feedback entre homem/homem e faz uma breve narrativa sobre a interação homem/máquina. Através de amostras das interações de aprendizes inseridos no contexto virtual ao longo do texto, tem-se uma visão clara de como o feedback – ou sua ausência – influencia nas atitudes e decisões tomadas pelos interagentes .[1] Como o objetivo aqui é apresentar as características e a funcionalidade do feedback em ambientes virtuais, passagens do texto sobre o assunto são privilegiadas.

A origem do termo feedback segundo Rinvolucri (1994:287) veio da biologia e refere-se à mensagem que retorna a um organismo após sua ação no ambiente, embora Robert de Beaugrande (comunicação pessoal) defenda que ele fora concebido no campo da engenharia elétrica, fato confirmado pela segunda edição do dicionário Oxford English Dictionary. A definição de Stemler (1997:339), em contexto virtual, esclarece que feedback é o output, geralmente visualizado na tela, para informar aos alunos sobre o grau de sucesso na solução de problemas ou para prover informações sobre a qualidade de suas respostas a eventos semelhantes a testes. Paiva (2003) define o termo no contexto da interação on-line como reação à presença ou ausência de alguma ação com o objetivo de avaliar ou pedir avaliação sobre o desempenho no processo de ensino-aprendizagem e de refletir sobre a interação de forma a estimulá-la, controlá-la, ou avaliá-la, não incluindo os termos aprendiz, aluno, professor, ou computador na definição, levando em consideração que o feedback é fornecido não somente pelo professor mas por colegas ou indivíduos fora do ambiente de aprendizagem e o aspecto interação é incluído por ser também objeto de avaliação no meio virtual.

Vigil e Oller (1976), citados por Allwright e Bailey (1991:92-93), apresentam dois tipos distintos de feedback: cognitivo, que fornece informação sobre o uso da língua e afetivo, que relaciona-se a fatores emocionais ao gerar respostas. Paiva (2003) no contexto das interações on-line, conclui que há dois tipos básicos de feedback: avaliativo, aquele que informa sobre o desempenho acadêmico do aluno ou do professor e interacional aquele que registra reações ao comportamento interacional do aluno ou do professor, cujas manifestações são vistas na tabela 1 no final deste texto. [2]

O feedback em nossa sociedade é um fator crucial para que seja estabelecido uma interação, seja no trabalho, na sala de aula tradicional ou na virtual. O ser humano tem a necessidade de ser correspondido, de obter um sinal que seu interlocutor esteja acompanhando suas ações, seja por uma fala, um olhar ou gesto. A ausência de feedback é visto como um fator negativo, causador de desconforto para quem faz um contato. Nas interações on-line, em sua maioria realizadas assincronicamente, a ansiedade e a expectativa por um feedback é ainda maior. Muitas vezes sua ausência faz com que o usuário se sinta ignorado e envie uma mesma mensagem várias vezes.

No contexto da sala de aula, Schwartz & White (2000:167) discriminam o feedback como formativo e somativo. O primeiro faz com que o aluno mude de pensamento ou comportamento a favor de sua aprendizagem. Seu objetivo é manter a motivação do aluno para este seja participativo e não abandone o curso. Elogiar e encorajar perguntas são exemplos de feedback formativo. O segundo avalia ou testa o aluno para a determinação de uma nota. Aqui, o professor fornece feedback ao registrar as tarefas recebidas e ao alertar os alunos quanto o número de faltas destes, por exemplo.

Já na sala de aula virtual, os mesmos autores argumentam que os alunos consideram o feedback como efetivo quando este é: (1) imediato, oportuno, e completo; (2) formativo e dirigido ao grupo; (3) avaliativo; (4) construtivo, substantivo e que dê suporte; (5) específico, objetivo e individual e (6) consistente. Paiva (2003), baseando-se nos dados coletados de cursos on-line por ela já conduzidos, afirma que os alunos esperam feedback imediato e individual do professor através de ações como elogios, observações e registro das atividades feitas por eles. É esperado do professor que este encoraje e dê apoio aos alunos demonstrando comprometimento quanto ao desempenho deles. Schwartz & White (2000: 167) apontam para a dificuldade de oferecer feedback em ambientes on-line, pela falta de dados contextuais não oferecidos pelo meio virtual. Para evitar que os alunos se sintam isolados ou excluídos, os autores sugerem que haja feedback efetivo para minimizar um pouco a descontextualização e reduzir o sentimento de isolamento do aluno on-line. Paiva (2003) argumenta que visualização do professor pelos alunos se faz necessária, podendo ser feita por meio de incentivo ao grupo para tentar resolver uma dúvida, sugestão de leituras complementares, envio de informações técnicas, etc. Ela também salienta a importância do feedback entre os participantes, visto que o professor não é o único que tem as respostas para as dificuldades ou dúvidas que possam surgir.

O feedback no processo de ensino/aprendizagem nos ambientes virtuais é essencial. Nas palavras de Paiva, é o feedback que move toda a interação e que garante o sucesso do curso. A ausência dele pode gerar isolamento e até ser causa de abandono de uma disciplina. Para tanto, é necessário ter em mente que tão importantes quanto as respostas fornecidas pelo professor são as dos alunos. A colaboração e o apoio de ambas as partes na elaboração de feedback são indispensáveis.



Tabela 1

Feeback avaliativo

Feedback interacional

O professor avalia o aluno

o aluno estimula permanência de outro aluno no grupo

O professor avalia o grupo

o professor estimula permanência de aluno(s) no grupo

o aluno pede feedback sobre uma tarefa

o aluno solicita confirmação de recebimento de mensagem aos colegas ou ao professor

o aluno avalia o curso ou o professor

professor ou aluno confirma recebimento de mensagem

o aluno avalia o grupo

o professor avalia a interação

o aluno avalia a si mesmo

o aluno avalia a interação

o aluno avalia o colega

o professor envia sugestão de normas de interação


o aluno envia sugestão de normas de interação

Referências Bibliográficas:

PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e. Feedback em Ambientes Virtuais. In: LEFFA, Vilson J. (org.). Interação na aprendizagem das línguas. Pelotas: EDUCAT, 2003. p. 219-254. Disponível em www.veramenezes.com.



[1] Para a visualização das amostras das interações dos aprendizes, acessar o texto na íntegra no site www.veramenezes.com na seção Publicações o texto Feedback em Ambiente Virtual, de número 56.

[2] Os dados da tabela foram retirados do texto de Paiva (2003).

8 comentários:

José disse...

Helen:

Penso que esta foi uma excelência escolha de texto para resenhar e comentar. Parabéns!

Espero que todos(as) os(as) colegas leiam sua contribuição, que considero ser de enorme importância num curso como este nosso!

José.

Julieta Sueldo Boedo disse...

Excelente o texto! Mas acho que na prática ainda estamos longe de avaliações formativas nos ambientes virtuais, assim como muitas vezes também nas aulas presenciais. Na minha experiência em disciplinas virtuais, na maioria das vezes o professor só considerava a data de postagem do trabalho e não seu conteúdo ou qualidade. Porém, a minha experiência é pequena e deveria se fazer uma pesquisa sobre como acontecem os feedbacks interacionais e formativos nos AVAs.
É verdade que nos sentimos sós muitas vezes quando não temos o nosso trabalho comentado ou a nossa mensagem respondida...
Saludos, Julieta

Anônimo disse...

Helen;

Considero esse aspecto - feedback - um dos mais importantes em ambientes virtuais de aprendizagem. O texto que você comentou no Blog é muito pertinente e consegue retratar de uma maneira muito fiél o que de fato ocorre, podendo prejudicar, e muito, o aprendizado em ambientes virtuais.
Considero, principalmente as seguintes passagens de seu texto:

"O feedback em nossa sociedade é um fator crucial para que seja estabelecido uma interação, seja no trabalho, na sala de aula tradicional ou na virtual. O ser humano tem a necessidade de ser correspondido, de obter um sinal que seu interlocutor esteja acompanhando suas ações, seja por uma fala, um olhar ou gesto. A ausência de feedback é visto como um fator negativo, causador de desconforto para quem faz um contato. Nas interações on-line, em sua maioria realizadas assincronicamente, a ansiedade e a expectativa por um feedback é ainda maior."

e ainda;

"Schwartz & White (2000:167) discriminam o feedback como formativo e somativo. O primeiro faz com que o aluno mude de pensamento ou comportamento a favor de sua aprendizagem. Seu objetivo é manter a motivação do aluno para este seja participativo e não abandone o curso."

Um abraço
Teresa

Virgínia disse...

Ao ler sobre feedback no seu texto pude constatar que a falta de retorno realmente é frustante para o aluno.
Alunos do PRODOCÊNCIA que se empenharam em construir um blog, ficaram despontados com a falta de interação dos colegas, e nos questionaram o objetivo do mesmo já que não constavam as postagens pedidas.

Será uma interessante reflexão!

Virgínia

Julieta Sueldo Boedo disse...

É complicado mesmo Virgínia. Mas a idéia dos blogs continua sendo muito boa. Talvez, acredito, uma das dificuldades dos alunos seja que cada tarefa foi planejada por diferentes professores e são muito diferentes uma das outras. Claro que isso é rico, mas o que eu quero dizer é que também o professor deve estar ciente das caracterísiticas do gênero blog, não podemos pedir qualquer coisa nem algo muito complexo, não acha? As tarefas devem ajudar e guiar os alunos e animá-los a participar! Para isso devem ser simples e de acordo com suas possibilidades... Beijossssssss

˙·٠•● Pesquisadores do Grupo 6 disse...

Concordo com Teresa!
À propósito, achei muito legal, ao abrir meu e-mail hoje, ver que o grupo se deu o trabalho de fazer comentários (um ótimo feedback interacional, hein?!) aos textos produzidos e postados no E-Proinfo!
Parabéns pela dedicação!
Abraços,
Karina.

joelma disse...

Feedback é um termo essencial quando se estuda qualquer processo de comunicação... Li um artigo interessante da professora de Comunicação, Dra. Marlene Marchiori (o artigo é sobre comunicação interna nas organizações mas acho que esse comentário cabe aqui), onde ela questiona se o e-mail é uma forma pouco, muito ou não eficiente em termos de feedback. Pois, para que o processor de comunicação realmente ocorra de forma efetiva, é preciso que o emissor tenha ciência da forma como a mensagem foi interpretada pelo destinatário... em ambientes virtuais de aprendizagem esse processo tem uma face diferenciada! a meu ver a virtualidade do processo (o fato de não estarmos cara a cara) faz com que nossa necessidade de retorno seja ainda maior...
Alguém pensa como eu?
Abraços!
Joelma

Gonzalo Abio disse...

Estou achando muito interessante as discussões neste curso.
Meu interesse pelo feedback me fez chegar até aqui.
Efetivamente, poderão ver num livro recente como este:
ANDERSON, Terry. The theory and practice of online learning. [2nd ed.], Edmonton: AU Press, Athabasca University, 2008. http://www.aupress.ca/index.php/ books/120146
que o feedback de qualidade é condição necessária na aprendizagem virtual.
Abraços para todos e todas,
Gonzalo Abio